27 de julho de 2009

verborragia

no início de julho estive em sampa para acompanhar os trabalhos e fazer as oficinas do evento de performances verbo, produzido pela galeria vermelho. estive uma semana mergulhada nesse acontecimento específico da linguagem da performance e um dos poucos que acontecem anualmente no país. presenciar, por dias a fio, o efêmero - arte viva ao vivo, estar de frente a algo que se dá no tempo presente, tão próximo da pele e da respiração, está entre as coisas que mais me arrepiam.

sobre os momentos preciosos desses dias, helena katz soube dizer tão bem neste texto que posto aqui pra vcs. leiam sim, que é nesse relatar, dizer sobre, ouvir, re-contar, que as performances continuam existindo e se desdobrando no tempo.



das coisas que incomodam por outras vias que não a da provocação, estão o fato de que ali corre-se o risco de transformar um espaço de experimentações numa grande vitrine onde desfilam muitas pessoas mais interessadas em exibir-se do que em se propor ao diálogo.
lá não há senha, convite, ingresso pra entrar, começa e termina sem aviso prévio, pode-se ver tudo acompanhado de bebidas, não tem delimitação de onde, como e quando se sentar, ficar ou se acomodar. acho até interessante desmistificar a arte e deixar o ambiente mais aberto e permeável à ocupação das pessoas. mas o engraçado é que, em meio a um público tão especializado em arte contemporânea, às vezes via-se uma grande banalização do estar ali e uma liberdade mais concedida em nome de criar uma boa balada do que em abrir-se pro inesperado. que se dirá pro afeto então.

[pensamos - eu, cássia e ricardo - num projeto: catalogar o público especializado em arte, especificando um por um, com direito à caracterizações sensoriais minuciosas.]

bom, outra coisa é o culto ao que vem de fora. só de ser out já está in e engrandece a pátria. e é nessas e noutras obras de cartão postal que incluem performances sem próposito que, apesar do volume que fazem, esvaziam o conceito que poderia se construir ali.

nesse contexto, vir do interior do país - ainda mais do estado tachado como dos caipiras, ou seja, atrasados na urbanização e na modernidade, sem sequer uma grande beleza natural como as cataratas do iguaçu - é quase palavrão. dói aos ouvidos de quem mora na metrópole e se refugia imediatamente em clichês pra dar conta dessa "outra forma de vida". quase em extinção na nova era global.

nesses momentos, o entre as coisas é sempre onde se produz mais pensamento e aparecem as brechas potentes. conhecer pessoas, ver exposições, tomar café despretensiosamente com amigos falando de arte como quem fala de lavar louças ou de escovar os dentes.
e até mesmo, porque não, ter um surto em pleno metrô porque o corpo não se sente bem - e dói não ter controle de si numa máquina avassaladora que tem sensores de movimento mas não de subjetividade.

durante as oficinas, foi bacana estar na praça com as pessoas que estavam frequentando a de marco paulo rolla (figura que se tornou muito querida) e se propor a ir pro espaço e experimentar propostas incipientes e espontâneas, confrontar-se com o fora.
bonito tb o dia em que trouxemos propostas de intimidade a partir das discussões com rose akras. dali guardo imagens fortes mesmo não sabendo nomes de quase ninguém, senti um pouco de suas fragilidades.

no último dia do evento - que deveria ser uma festa e acabou com uma lamentável tentativa de diálogo com as aparelhagens do pará espantando todos os presentes - eu, cássia, pilantropóv e bruno fomos andando soltos na deriva até parar na porta da vermelho. fechada e deserta, a galeria foi um convite à litergia, mais receptiva que nunca. enchemos balões amarelos com nossos fôlegos já cansados de artistas (não tão consagrados) escrevendo em cada um deles, um verbo sobre a verbo.















Um comentário:

ana reis disse...

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