14 de abril de 2010

rio e também posso chorar














caminhar no rio é apertar a câmera como se aperta um gatilho.
todas aquelas imagens repetidas de um cartão postal, multiplicadas nos suvenirs de lojas, nas fotografias ou pinturas de galerias, em qualquer memória que se queira reter da cidade.
e fui também tomada, quase como um assalto, pela paisagem exuberante.
no início eram os cheiros. meu corpo, em tantas andanças pelo centro da cidade, invadido por aquele odor intragável, dos bueiros, do asfalto. e o som das buzinas, dos camelôs, da sirene de uma ambulância que tentava atravessar o trânsito caótico e talvez salvar uma vida.
depois, era estar sozinha pela cidade, anônima transeunte que observava, e fazer da foto uma espécie de testemunho pra uma existência quase sempre silenciosa. tirar a câmera da bolsa como quem sente uma espécie de vergonha em ser mais uma a propagar a redundância.
ainda buscava as camadas da experiência na paisagem retratada, insistindo na possibilidade da presença de um corpo por trás do gatilho, como quem diz, eu me rendo. e aperta.

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