11 de junho de 2010

uma introdução à vida não fascista


(...)
Essa arte de viver contrária a todas as formas de fascismo, quer estejam já instaladas ou próximas do ser, se faz acompanhar de um certo número de princípios essenciais, que eu resumiria como se segue, se tentasse fazer desse grande livro um manual ou um guia da vida cotidiana:
Libere a ação política de toda forma de paranóia unitária e totalizante.
Faça crescer a ação, o pensamento e os desejos por proliferação, justaposição e disjunção, mais do que por submissão e hierarquização piramidal.
Libere-se das velhas categorias do Negativo (a lei, o limite, a castração, a falta, a lacuna) que o pensamento ocidental por tanto tempo manteve sagrado enquanto forma de poder e modo de acesso à realidade. Prefira o que é positivo e múltiplo, a diferença à uniformidade, o fluxo às unidades, os agenciamentos móveis aos sistemas, considere o que é produtivo, não é sedentário, mas nômade.
Não imagine que precise ser triste para ser militante, mesmo se a coisa que combatemos é abominável. É o elo do desejo à realidade (e não sua fuga, nas formas da representação) que possui uma força revolucionária.
Não utilize o pensamento para dar a uma prática política um valor de verdade, nem a ação política, para desacreditar um pensamento, como se ele não fosse senão pura especulação. Utilize a prática política como um intensificador do pensamento, e a análise como um multiplicador das formas e dos domínios de intervenção da ação política.
Não exija da ação política que ela restabeleça os “direitos” do indivíduo, tal como a filosofia os definiu. O indivíduo é o produto do poder. O que é preciso é “desindividualizar” pela multiplicação e pelo deslocamento, pelo agenciamento de combinações diferentes. O grupo não deve ser o elo orgânico que une indivíduos hierarquizados, mas um constante gerador de “desindividualização”.
Não se apaixone pelo poder.

Michel Foucault

(prefácio à edição americana do Anti-édipo, de Gilles Deleuze e Felix Guattari)



Um comentário:

Cássia Nunes disse...

a mulher bomba submersa tá latejando, hein?
fiquei pensando em imagens naquela estrada pra rio preto... como era mesmo? palestina, fronteira e nova granada?